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O discurso do Papa Francisco na vigília no campo da Graça no dia 5 de Agosto

“Queridos irmãos e irmãs: Boa noite!

Alegra-me ver-vos. Obrigada por terem viajado, por terem caminhado, obrigada por estarem aqui! E penso que também a Virgem Maria teve de viajar para ver Isabel: «partiu e foi apressadamente» (Lc 1,39). Perguntamo-nos: porque se levanta Maria e vai depressa ver a sua prima? Claro, acaba de saber que a sua prima está grávida, mas ela também está! Porque é que então há de ir se ninguém lho pediu?

Maria realiza um gesto que não lhe é pedido, não é obrigatório. Maria vai porque ama e «aquele que ama, voa, corre e alegra-se» (A Imitação de Cristo, III, 5).  É isso que nos faz o amor. A alegria de Maria é dupla, tinha acabado de receber o anúncio do Anjo, de que iria receber o Redentor e, também, a notícia de que a sua prima está grávida.

É curioso, em vez de pensar em si, pensa no outro. Porquê? Porque a alegria é missionária, a alegria não é para um só, é para levar algo, e pergunto-vos, vocês que estão aqui, que vieram encontrar-se, procurar a mensagem de Cristo, procurar um sentido lindo para a vida.

Vão deixar que isto fique só para vocês ou vão levá-lo aos outros? Que pensam? Não oiço!

É para levar aos outros, porque a alegria é missionária. Vamos repetir todos juntos:

A alegria é missionária! Então eu tenho de levar esta alegria aos outros e essa alegria que nós temos, também outros nos prepararam para a receber.

Agora olhemos para trás, tudo o que recebemos, o que já recebemos, tudo isso preparou o nosso coração para a alegria. Todos, se olharmos para trás, temos pessoas que foram um raio de luz para a vida: pais, avós, amigos, sacerdotes, religiosas, catequistas, animadores, professores, são como as raízes da nossa alegria. Agora façamos um segundo de silêncio, e cada um pensa naqueles que nos deram algo na vida, que são como as raízes de alegria. Encontraram? Enc­­ontraram rostos? Encontraram histórias? Essa alegria que veio por essas raízes é a que nós temos de dar, porque nós temos raízes de alegria, e também nós podemos ser para os outros raízes de alegria. Não se trata de levar uma alegria passageira, uma alegria do momento, trata-se de levar uma alegria que crie raízes. E pergunto-me, como podemos converter-nos em raízes de alegria?

A alegria não está na biblioteca fechada (apesar de ser preciso estudar), está noutro lado, não está fechada à chave, a alegria, há que procurá-la, há que descobri-la, há que descobri-la no nosso diálogo com os outros onde temos de dar essas raízes de alegria que já recebemos. E isso às vezes cansa. Vou fazer-vos uma pergunta: Vocês já se cansaram alguma vez? Não? Sim? Não oiço! Cansaram-se alguma vez?

Então pensem no que acontece quando alguém está cansado, não tem vontade de fazer nada. Como dizemos em espanhol: “Uno tira la esponja” porque não tem vontade de continuar e então desiste, deixa de caminhar e cai. Acham que uma pessoa que cai na vida, que tem um fracasso, que inclusive comete erros graves, fortes já está acabada? Não.

Não oiço! Não. O que é que se deve fazer? Não oiço! Levantar-se. E é uma coisa muito bonita que queria que hoje levassem como recordação. Os alpinistas que gostam de subir montanhas têm um ditado muito bonito que diz assim:

 Na arte de subir à montanha, o que importa não é não cair, mas sim não permanecer caído. Coisa linda.

O que permanece caído? Desistiu, perdeu a esperança, aí fica caído, e, quando vemos algum amigo nosso que esteja caído o que temos de fazer? Levantá-lo, com força. Quando temos de levantar ou ajudar a levantar uma pessoa, que gesto fazemos? Olhamos para ela de cima para baixo. A única situação em que é legítimo olhar para uma pessoa de cima para baixo é para a ajudar a levantar-se. Quantas vezes vemos as pessoas olharem para nós assim, por cima do ombro, de cima para baixo? É triste. A única situação em que é legítimo olhar para uma pessoa de cima para baixo é, podem dizê-lo, ajudar a levantá-la! Às vezes, não nos apetece andar, não nos apetece fazer um esforço, copiamos nos exames porque não queremos estudar e não conseguimos ter sucesso. Não sei se alguém aqui gosta de futebol? Eu gosto! Por detrás de um golo, o que há? Muito treino. Por detrás de um êxito, o que há? Muito treino. E na vida, não se pode fazer sempre o que se quer, mas sim aquilo que a vocação que temos dentro de nós nos leva a ser.

Caminhar. Se cair, levantar-me ou deixar que me ajudem a levantar, não ficar caído e treinar-me, treinar-me no caminho. E tudo isto é possível, não é por fazermos cursos sobre o caminho, não há nenhum curso que nos ensine a andar na vida. Isto aprende-se, aprendemos com os nossos pais, com os nossos avós, com os nossos amigos, a dar a mão uns aos outros. Na vida aprendemos. E isso é o treino ao longo do caminho.

Deixo-vos com esta ideia, caminhem, e se caírem, levantem-se. Caminhem com um objetivo, treinem-se todos os dias da vida. Na vida nada é de graça, tudo se paga. Só há uma coisa de graça, o amor de Jesus. Por isso, com esta oferta que temos, o amor de Jesus, e com o desejo e a vontade de caminhar, caminhemos na esperança. Olhemos para as nossas raízes, sem medo, não tenham medo!

Obrigado, ciao!”