Caríssimos amigos aqui chegados do mundo inteiro para a Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023.
Bem-vindos todos! Bem-vindos também na amplitude ecuménica, inter-religiosa e de boa vontade que estes dias têm e congregam. Desejo que vos sintais “em casa”, nesta casa comum em que viveremos a Jornada Mundial. Bem-vindos!
A Missa que celebramos, na expetativa da chegada do nosso querido Papa Francisco, é a da Visitação de Nossa Senhora, lema geral da Jornada: “Maria levantou-Se e partiu apressadamente” (Lc 1, 39) ao encontro de Isabel. É um passo evangélico que nos inclui também.
Ouvimo-lo há pouco: «Naqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se apressadamente para a montanha, em direção a uma cidade de Judá. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel.»
Pôs-se a caminho, dirigiu-se apressadamente para a montanha, entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Três pontos em que me deterei brevemente, nesta palavra inaugural.
Maria pôs-se a caminho. Um caminho difícil e sem os meios de transporte de que hoje dispomos. E era uma jovem como vós, que há pouco concebera Jesus, do modo único que o Evangelho relata.
Também vós vos pusestes a caminho. Foi para muitos um caminho difícil pela distância, as ligações e os custos que a viagem envolveu. Foi preciso juntar recursos, desenvolver atividades para os obter e contar com solidariedades que graças a Deus não faltaram.
De longe ou mais perto, pusestes-vos a caminho. É muito importante pôr-se a caminho. Assim devemos encarar a própria vida, como caminho a percorrer, fazendo de cada dia uma nova etapa.
É verdade que hoje muita coisa vos pode deter, caros amigos, com a possibilidade de substituirmos a realidade verdadeira, que só se atinge a caminho dos outros, como realmente são, pela aparência virtual dum mundo à escolha. Um mundo à escolha, diante dum ecrã e dependente dum clique que o mude por outro.
A virtualidade mantém-nos sentados, diante de meios que facilmente nos usam quando julgamos usá-los. Bem pelo contrário, a realidade consistente põe-nos a caminho, ao encontro dos outros e do mundo como ele é, tanto para o admirar como para o fazer melhor.
Agradecemos aos media a possibilidade de nos conhecermos mais, a nós aos outros e ao mundo. Vivemos mediaticamente e já não saberíamos viver doutro modo. Contamos com o seu apoio, mas não nos dispensamos de caminhar por nós mesmos, de contactar e verificar diretamente a realidade que nos toca, a nós e a todos.
Valeu a pena o caminho que percorrestes para chegar aqui e vos encontrardes nestes dias, na variedade do que sois e na qualidade que trazeis, cada um e cada uma, de cada terra, língua e cultura. Nada pode substituir este caminho pessoal e de grupo, ao encontro do caminho de todos.
Maria levava já no seu ventre o “bendito fruto” que era Jesus. Os cristãos levam-no também, espiritual mas realmente, porque o recebem na Palavra, nos sacramentos e na caridade onde Ele se oferece. E como acreditamos em Jesus como caminho para Deus, caminhamos com Ele para O levar aos outros. No mesmo impulso que levava Maria, no mesmo Espírito que nos leva a nós. A caminho!
Maria dirigiu-se apressadamente para a montanha, como ouvimos também.
Não é por acaso que o texto fala da pressa de Maria, como noutros passos evangélicos se fala da urgência do anúncio, do testemunho e da visitação permanente aos outros, como havemos de fazer.
Caros jovens, sabeis muito bem que quando o coração está cheio rapidamente transborda. Como é impossível sufocar o que vos vai na alma, quando é realmente forte e mobilizador.
Maria levava consigo o próprio Jesus que concebera. E Jesus é “Deus connosco”, para ser Deus com todos. Daí a pressa de O levar a Isabel, mesmo subindo montanhas.
Vós conheceis esta “pressa”, porque também outros se apressaram a vir ao vosso encontro para vos levar Jesus e tudo quanto Ele vos oferece de horizontes largos e vida em abundância.
Nem precisais de perceber sempre as palavras, como acontece agora, entre tantas línguas aqui reunidas. Porque os próprios olhos falam e vos sentis seguros e confiantes, na atmosfera cristã que em conjunto criais e nos gestos simples com que comunicais. Há verdadeiramente uma “pressa no ar”, que circula entre vós e onde chegareis nestes dias. Um ar em que o próprio Espírito divino circula, com a prontidão que só Deus tem e comunica.
Quando disse ao Papa Francisco que era este precisamente o lema da nossa Jornada – Maria dirigiu-se apressadamente… – ele logo acrescentou que sim, apressadamente mas não ansiosamente.
Na verdade, a ânsia é do que ainda não temos e pretendemos inquietos. A pressa é diferente, é partilhar o que já nos leva. Por isso é uma urgência serena e sem atropelo. Como aqui chegastes e como aqui estareis, levando aos outros o que vos traz a vós.
Lembro a propósito um trecho dos primeiros cristãos, mesmo numa sociedade que demorava em entendê-los: «no íntimo do vosso coração, confessai Cristo como Senhor, sempre dispostos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la peça; com mansidão e respeito, mantendo limpa a consciência…» (1 Pe 3, 15-16).
Assim estareis vós, nesta pressa sem ansiedade, como quem partilha o que vai tendo. O que vos trouxe aqui e levareis acrescentado pela graça destes dias!
Finalmente, dizia o texto que Maria entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel.
Caros amigos, assim também vós chegareis uns aos outros, com verdadeira e alegre saudação.
O Evangelho conta-nos a alegria daquele encontro de Maria com Isabel e do reconhecimento mútuo em que ocorreu. A saudação de Maria foi tal que suscitou na sua parente a exclamação que tantas vezes repetimos: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!» E às palavras de Isabel correspondeu Maria com um dos hinos mais belos que cantamos desde então, o Magnificat.
É muito importante que seja assim convosco e com todos. Na verdade, cada encontro que tivermos deve ser inaugurado com verdadeira saudação, em que troquemos entre nós palavras de acolhimento sincero e plena partilha.