Caros irmãos e irmãs: Bom dia!
Agradeço as palavras do pároco e saúdo todos vós, em particular os amigos do Centro Paroquial da Serafina, da Casa Família Ajuda de Berço e da Associação Acreditar. Agradeço as vossas palavras e o trabalho que fazem. Obrigado! É bom estarmos juntos, no contexto da Jornada Mundial da Juventude, a contemplar Nossa Senhora que se levanta para ir ajudar (cf. Lc 1, 39). A caridade, de facto, é a origem e a meta do caminho cristão e a vossa presença, a realidade concreta do “amor em ação”, ajuda-nos a não esquecer o caminho, o sentido daquilo que estamos sempre a fazer.
Obrigado pelos vossos testemunhos, dos quais gostaria de sublinhar três aspetos: fazer o bem juntos, agir concretamente e estar perto dos mais frágeis. Por outras palavras, fazer o bem em conjunto. Agir concretamente, não apenas com ideias, mas concretamente. E estar perto dos mais frágeis.
Primeiro: fazer o bem em conjunto. “Juntos” é a palavra-chave, que foi repetida muitas vezes nos discursos. Viver, ajudar e amar juntos: jovens e idosos, saudáveis e doentes, juntos. João disse-nos algo muito importante, que não nos devemos deixar “definir” pela doença, mas sim fazer dela uma parte viva da contribuição que damos à comunidade como um todo. É verdade, não nos devemos deixar “definir” pela doença, ou pelos problemas, porque não somos uma doença, não somos um problema. Cada um de nós é um dom, um dom, um dom único – com os seus limites – mas um dom, um dom valioso e sagrado para Deus, para a comunidade cristã e para a comunidade humana. Por isso, tal como somos, tal como estamos, enriqueçamos o todo e deixemo-nos enriquecer pelo todo.
Em segundo lugar, temos de agir concretamente. Isto também é importante. A Igreja não é um museu de arqueologia, algumas pessoas pensam que é, mas não, é a fonte antiga da Igreja, é a antiga fonte do povo que abastece de água as gerações presentes e futuras” (Homilia após a Missa bizantina eslava, 13 de novembro de 1960). A fonte serve para matar a sede. As pessoas que carregam o fardo do caminho da vida são concretude. Por isso, atenção, aqui e agora, como já estão a fazer, com atenção ao pormenor e praticidade, belas virtudes típicas do povo português. Há muitas coisas que gostaria de vos dizer agora, mas acontece que os meus óculos não estão a funcionar e eu não consigo ler bem, por isso, vou dar-lhes isto para que mais tarde possam tornar público, pode ser? E assim não arrisco esforçar os olhos e ler mal. Isso não pode acontecer.
Eu só quero insistir numa coisa que não está escrita, mas está no espírito disto, o concreto.
Não existe amor abstrato, não existe. O amor platónico está em órbita, não está na realidade. O amor é concreto, é o que suja as mãos. E cada um de nós pode perguntar: O amor que sinto por todos aqui, que sinto por todos os outros, é concreto ou abstrato? Quando aperto a mão a um necessitado, a um doente, a um marginalizado, sacudo as mãos logo a seguir ao aperto de mão para que não me conspurquem? Tenho nojo da pobreza, da pobreza dos outros? Estou sempre à procura da vida destilada, aquela que existe na minha fantasia, mas que não existe na realidade?
Quantas vidas destiladas, inúteis, que passam pela vida sem deixar rasto, porque a sua vida não tem peso. Aqui, temos uma realidade que deixa uma marca, uma realidade de tantos anos, tantos anos que está a deixar uma marca que é uma inspiração para os outros.
Não poderia haver uma Jornada Mundial da Juventude sem ter em conta esta realidade, porque isto também é juventude no sentido em que gera continuamente vida nova. Vocês, com a vossa conduta, com o vosso empenho, com a vossa mão na massa, ao tocarem a realidade da miséria dos outros, estão a gerar inspiração, estão a gerar vida, e eu agradeço-vos por isso, agradeço-vos do fundo do meu coração. Continuem e não percam a coragem e se perderem a coragem, bebam um copo de água e continuem.
04.08.2023